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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Anorexia Nervosa - pesquisa

Pessoal,
Em função do meu mestrado em psicologia, pela UFRN, estou a procura de voluntárias do sexo feminino com Anorexia Nervosa*.
Caso você conheça alguém que está (ou esteve) na experiência da anorexia nervosa repasse essa mensagem. Meu interesse é compreender essa experiência.
Lembrando que todo o contato será sigiloso.
Caso possa também auxiliar minha pesquisa compartilhando essa mensagem com seus amigos, agradeço.
As voluntárias não precisam, necessariamente, ser residentes do Rio Grande do Norte.

Atenciosamente,
Élida Cunha
psicóloga e pesquisadora (CRP 17/1556)

Contato: elida.mnc@gmail.com 

*Características principais da AN (Anorexia Nervosa): perda exagerada e rápida de peso (assim como medo de ganho do mesmo); autoimagem distorcida (acha-se gorda mesmo estando muito magra); preocupação excessiva com corpo, alimentação e consumo de calorias; excesso de atividade física; amenorréia, nos casos mais avançados.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Quando a velhice decide chegar

"Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!

Quando se vê, já é Natal…

Quando se vê, já terminou o ano"


"Com essa citação desse tal de Quintana, na minha cadeira de balanço no jardim de casa, começo o texto de hoje.

Quando menos se espera a semana passou, décadas escorreram pelos meus dedos. Não sou mais aquela menina de 20 anos que começou a trabalhar no hotel mais famoso da cidade, que voltava pra casa a pé e ouvia coisas do tipo “que pão-de-ló”, “que bombonzinho”, frases assim. 
Fico até pensando se todas as cantadas tinham a ver com comida, era cada uma que eu ouvia...

Em falar em comida, lembro como se fosse semana passada, de quando eu tinha 60cm de cintura e longas pernas; de quando me sentia bonita e ia aos bailinhos da minha cidade.
E em um desses bailinhos conheci o homem que viria a ser meu marido e pais dos meus filhos. Foram meses ele passando em frente a minha casa e eu em frente a casa dele, a gente ainda não se falava, nossos olhos se cruzaram no bailinho e achei que seria para sempre.

Fui muito feliz, sabe? Apesar de tudo, foi o único homem que amei, foi quem me deu o maior presente de todos: meus filhos. Mas logo se acabou. Meu Juvenal, quer dizer, ainda acho estranho não chamá-lo mais de “meu”, Juvenal conheceu uma outra mulher, mais nova e espevitada, estava na moda essas mulheres atrevidas, nunca me acostumei com elas.
Eu era apenas uma menina do interior que queria cuidar da minha casa, dos meus filhos e do meu marido. Acho que não foi suficiente.

Depois que ele se foi, nunca mais amei ninguém. Não por falta de propostas, apesar de tudo eu ainda continuava bonita. Não queria que outro homem me tocasse, se aproximasse dos meus filhos.
Voltei a trabalhar no hotel, precisava me sustentar e educar minhas crianças. Foram anos bons, mas já não sentia tanto prazer assim em estar ali.

Dizem que reclamo demais: reclamo de quando faz sol e de quando faz chuva. Mas tenho culpa? Quando faz sol fica muito quente e quando faz frio, minhas juntas doem. Não é culpa minha reclamar tanto assim, o mundo é que não é justo.

Cá estou eu, depois de 5 AVC (e os médicos dizem que sou vitoriosa por ainda estar viva. Ora vitoriosa! Que vitória há em estar com metade do corpo paralisado?!), sentada, olhando o mundo lá fora.

Ritinha está de namorado novo, Zezé se separou de novo, João Grilo não para de trair a esposa e todo mundo sabe.

Fui aposentada por invalidez, não posso mais trabalhar porque mal consigo andar, não consigo fazer mais quase nada.
Mas pelo menos meu cumê ainda sou eu que faço, esse prazer ninguém me tira!
Meus filhos me deixaram, hoje vivo sozinha: sem marido, sem filhos, meus netos não gostam de vir aqui, dizem que moro longe e aqui não pega um tal de internet, sei nem o que é isso.
Hoje só me resta essa menina aqui que escreve o que eu falo para ela, mas sei que ela só está aqui porque dou umas moedinhas.

Quando eu tinha 20 anos não imaginava que o mundo pudesse girar tão depressa, que eu deixaria passar tantas oportunidades, que eu fosse precisar de ajuda até para colocar a roupa, que o mundo estivesse rodeado de tanta maldade e doença e que eu estaria agora, aos 76 anos, aconselhando as pessoas a viverem mais, a valorizarem mais. Valorizarem o simples poder subir e descer escadas, o poder levar o garfo à boca sem derramar metade da comida, aquela amiga que te admirava tanto, mas você não tinha paciência para conversar, um abraço sincero que a mágoa não te deixou dar, um “eu te amo” guardado no bolso... Foram tantos “quase” que só me resta o “se”: Se eu tivesse feito tal coisa, se eu tivesse dito aquilo...
E o que me resta é esperar a morte vir recolher minha alma".



Teria escrito Dona Gertrudes. 
Quantas Gertrudes existem por aí?





Élida Cunha  - 
Especialista em Psicologia Clínica Humanista-existencial-fenomenológica;
gestalt-terapeuta (em formação);
mestranda em Psicologia - UFRN

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Curtir, comentar e compartilhar

Assisti a este vídeo que me incentivou a escrever o post de hoje.

Constantemente surgem novos textos e discussões acerca das redes sociais, da exposição em excesso; de suas causas e consequências. Mas isto ainda é um tema que gera mais e mais “material” para ser questionado e, até, olhado com certa perplexidade.
Sim, perplexidade. A exposição é tanta que às vezes sabemos o que Fulano comeu ao longo do dia – refeições e lanches – que horas realizou suas atividades, com quem, onde e o que, teoricamente, estava sentindo.
Desejar ser admirado, elogiado e até invejado não é um fenômeno atual, mas a internet ajudou para que o alcance fosse maior.
Hoje você não precisa se contentar em ser admirado pelo seu vizinho ou colega de trabalho, não, isso é muito pouco! Você pode quebrar fronteiras e ser invejado por alguém que mora há 15 anos no Japão e que você nem conhece ao vivo. Já imaginou que poder você tem?!

Já que exemplifiquei o Japão, tão geometricamente distante do Brasil, há quem argumente que redes sociais ajudam na comunicação e aproximação de parentes, amigos, paqueras e qualquer outro tipo de relacionamento.
O raciocínio, a meu ver, não é todo distorcido, afinal, que atire a primeira pedra quem nunca se comunicou, com ajuda da rede social, com alguém que mora longe.
Mas...

Mas não é “somente” o comunicar-se: é interessante acompanhar a necessidade que, a sociedade como um todo, tem demonstrado em exibir sua vida; necessidade do mostrar-se, de ser o mais bonito, o mais inteligente, o mais viajado, o mais bem-sucedido e, principalmente, o mais feliz.
O acompanhar a vida do outro gera até uma certa (falsa) intimidade, daquele tipo de encontrar na rua alguém que você mal conhece, mas que sabe que a filhinha nasceu, para onde o casal viajou de férias e o tipo de comida preferida; o que pode  vir a gerar uma insegurança pessoal/familiar – no entanto isso já levaria a discussão para outro ponto.
É ver uma pessoa tão linda na foto cheia de filtros e efeitos, mas na rua cruzar com ela e vê-la cheia de olheiras, rugas e cicatrizes das espinhas da adolescência. Não ser tão bonita como a foto não é ruim, pelo contrário!, é o poder-ser você, com o que de bom e mau a vida te brindou.

Necessidade de aceitação? Necessidade de afirmação? Necessidade de ser o melhor? Competição? Pouco interessa o nome dado ao fenômeno da exposição, tão atual na nossa vida.  
Interessa o que fazemos com isso, como enfrentamos e reconhecemos em nós mesmos que há uma lacuna, uma falta, que a internet tem ajudado, momentaneamente, a suprir.
Sucumbiremos a essa falta?

Já ouvi pessoas dizerem que postam ali o que pensam e sentem, pois não tem quem os ouça e que é bom ver as pessoas curtindo sua postagem e comentando seu ponto de vista.
Chegamos ao ponto no qual não temos mais ouvidos atentos e ombros carinhosos para nos acolher; temos a impessoalidade a qual recorremos.

Que solitário, em meio a um número crescente de amigo virtual, deve ser não ir mais à casa do amigo para comer uma pizza e intercalar com um desabafo, e sim restringir seu modo-de-ser ao mundo virtual, na angustiante espera de ser notado, curtido, compartilhado e comentado.

Élida Cunha  - 
Especialista em Psicologia Clínica Humanista Existencial Fenomenológica;
gestalt-terapeuta (em formação);
mestranda em Psicologia - UFRN



quinta-feira, 24 de abril de 2014

Quando desistir é persistir


Como assim, Élida? O desistir não seria o oposto de persistir?”.

Explico melhor: às vezes é preciso desistir de algo para continuar persistindo no sonho.
É preciso desistir da faculdade de Direito para poder continuar na sua busca pelo sonho de ser artista plástica, caso você não consiga mais conciliar os dois.
É preciso desistir do casamento que você está, para se sentir feliz novamente.

E aí que você foi lá, batalhou, participou de uma seleção concorrida e foi chamada para trabalhar na empresa dos seus sonhos. Que maravilha! Você faz suas malas, se muda para a cidade dos seus sonhos, renova suas esperanças, reforça sua autoestima, recheia a conta bancária e vai, de peito aberto.
Ao passar dos meses você descobre que não é tão legal assim morar em uma cidade que o clima muda o tempo todo – “e  eu ainda reclamava do calor da minha cidade” –, que estar distante da mãe dramática, do pai exigente, da irmã tagarela, não é tão legal assim; descobre, na dor, que é melhor só ter o dinheiro do combustível contado, no final do mês, do que ter o do combustível, da cerveja, da balada, e não ter com quem dividir.  
Descobre que o emprego não é tão dos sonhos assim; que não é tão divertido morar sozinho, que seus amigos de infância espalhados pela sala, assistindo um filme qualquer na televisão, fazem muita falta.

E aí que às vezes é preciso desistir para persistir. Desistir do que se achava que era o certo e descobriu, depois de provar, que não é bem asssim... que a grama não é tão verde, que o céu não é tão azul, que os pássaros não cantam na sua janela todos os dias.
Você desiste disso para persistir na busca pela sua felicidade, na busca de outros sonhos.

Como é, para você, descobrir que teve que desistir porque simplesmente não conseguiu dar conta de algo?
É tão cobrado que “você não pode desistir”, “desistir é coisa de fraco”, que esquece-se do nosso lado humano que pode simplesmente não querer, não conseguir e precisar parar, desistir.

Desistir também é uma possibilidade. Quando você quiser, onde você quiser.
Lembre disso.

“Às vezes queremos tanto o que queremos que não passa pela nossa cabeça que talvez isso possa não ser tão bacana para a nossa vida como a força do sonho faz parecer” (não conheço a fonte).



Élida Cunha  - 
Especialista em Psicologia Clínica Humanista Existencial Fenomenológica;
gestalt-terapeuta (em formação);
mestranda em Psicologia - UFRN.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

A menina que roubava livros


Assisti hoje o tão comentado “A menina que roubava livros”.
Longe de chegar perto da dimensão do livro; um livro absurdamente irônico, uma ironia fina, gostosa, provocante, envolvente; um livro poético sem ser meloso, sensível; é existencialista; e  a narrativa corre aos olhos de quem quer que leia.

Mas, voltando ao filme, ele me fez ver as cenas e refletir sobre as perdas.
Ele se passa na II Guerra Mundial, na qual as atrocidades do nazismo aparecem de forma tão brutal, mas ao mesmo tempo tão dissimuladas.
E as perdas vêm de todos os lados: a mudança de casa, mudança de família, morte de pessoas amadas, partida de outras...
A “Dona Morte” é a narradora. É ela quem acompanha a vida da protagonista, Liesel, suas dores, seu crescimento, sua resiliência, sua miséria; sua sede, mesmo não consciente, de viver. O percurso de vida de Liesel é valorizado, suas vivências brilham aos olhos de quem a assiste.

Mas o que inspira no filme é que Liesel não deixa a esperança morrer. Por pior que seja o momento, a vivência, a angústia, o não entendimento do que realmente está acontecendo; a esperança continua lá,  num fiozinho bem fino, em muitos momentos.
Ela, na verdade, é uma sobrevivente. E, para isso, ela se utiliza de seus recursos: a família, o amigo fiel, as palavras que a encantam, sua criatividade e, porque não, uma pitada de sorte.


As dores que uma guerra pode provocar tão misturadas com o amor que se pode construir; é uma delícia de assistir.

Todos nós vamos encontrar, em algum momento, com a narradora. Contudo, uma das muitas mensagens que o filme passa é que o caminho, até esse inevitável encontro, é o mais importante. A morte é fato, o caminho é escolha.

Então, como diz a capa final do livro “Quando a morte conta uma história, você deve parar para ler”.

P.S.: Evitei dar muitos detalhes do livro/filme para que, quem ainda não entrou em contato, não perca a surpresa da narrativa.


DICA: Leiam o livro. O filme é até interessante, mas não se compara com o livro. 

Élida Cunha  - 
Especialista em Psicologia Clínica Humanista Existencial Fenomenológica.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Novos ciclos

“Já é Natal? Como assim?!”

Assim começou um diálogo (seguido por uma expressão de espanto estampada no rosto), que ouvi, semana passada, em um shopping da cidade.

Pois é, mais um ano está acabando e para muita gente esse é o período de fechar e abrir um novo ciclo. No entanto, todos nós estamos abrindo e fechando ciclos o tempo inteiro. Ou, ao menos, saudável seria se estivéssemos.
Fechar um ciclo é tão importante quanto iniciar um novo. A vida é feita de movimento, nada permanece imutável e é necessário que possamos nos apropriar do momento vivido e sabermos quando estamos prontos para simplesmente colocar um ponto final e seguir em frente.

Um ponto final no emprego que não te faz mais feliz, ponto final no relacionamento que não faz mais sentido na sua vida, ponto final nos conflitos infundados, ponto final nos gastos supérfluos que te afundam em dívida, etc; e às vezes é o outro quem nos impõe um ponto final. E aí? Descabelar e desesperar-se ou simplesmente aceitar?

Começar um ciclo significa que você pode reorganizar-se, olhar para o seu caminho e escolher por onde vai, que caminho quer seguir – independente da estrada.  E, sim, muitas vezes é necessária uma coragem enorme para fechar uma porta e tentar abrir a outra, sem saber exatamente o que tem atrás dela.
Fechar um ciclo é se permitir sair do confortável – que começou a ficar desconfortável –, do cômodo, do conhecido; é trocar a poltrona que já tem o formato do seu corpo por uma nova. É trocar o certo pelo duvidoso.

Lembro de uma frase, bem clichê, que já li várias vezes por aí: se você ainda não consegue abrir uma porta, tenta pela brechinha da janela.
Faça o que for possível para você no momento.

E aí, que ciclos você fechou  esse ano? Quais você abriu?

Feliz finalzinho de ano e nos vemos em 2014! 

Élida Cunha  - 
Especialista em Psicologia Clínica Humanista Existencial Fenomenológica.



domingo, 18 de agosto de 2013

Pressa, quanta pressa!

O mundo vive com pressa, vocês já se deram conta?
Ou somos nós que vivemos assim?
E não falo só daquele chefe que pede mais produção, nem daquele vizinho que vive correndo e nem sabe em que série a filha está. Ou então da dona-de-casa que precisa limpar, passar, fazer o almoço e cuidar de tudo.
Não, eu falo de cada um, da pressa diária que é da sua mãe, do seu amigo, é minha. Mas também é sua.

Que atire a primeira pedra quem nunca esteve correndo, angustiado, aperreado  e martirizando-se por achar que, simplesmente, não vai dar tempo.
Tempo de que, afinal?

É fácil olhar e perceber como todos vivem apressados. Nesse ritmo frenético, que a contemporaneidade nos impõe, acabamos por perder o que realmente faz sentido na vida. Perde-se de conviver com sua avó que, já velhinha, anda e fala mais devagar – ela não mais tem pressa na vida –, de se deliciar com um livro não-técnico, de almoçar sentado e conseguir sentir o gosto de cada alimento que, rapidamente, é engolido; de passear pela praça ao invés de apenas atravessá-la para chegar ao seu destino; de sentir a brisa gostosa que corre nas tardes mais amenas; de acompanhar o crescimento da sua irmã, sobrinha, afilhada, filha, seja lá o que a criança for sua.

Não há mais tempo para encontrar um amigo em uma tarde qualquer e dizer “ah, vamos tomar um café e depois pegar um cineminha?”.
Não! Jamais! É preciso trabalhar mais, estudar mais, produzir mais, consumir mais, correr mais atrás. Precisa-se cada vez mais de mais dinheiro, mais bens materiais, mais “coisas” para mostrar ao outro. Um viva para nossa 'Sociedade do Espetáculo'!, como bem denominou o escritor francês Guy Debord.

E essa sede de viver tudo, tão rapidamente, e sugar o máximo do mundo, tem um preço. Tudo vem com um preço.Cada um paga o seu.
Seja em forma de sensações não agradáveis – como ansiedade, angústia, desespero. Seja em crises existenciais ou patologias, das mais diversas.


Sua pressa é de que mesmo? E quando chegar onde você quer, qual vai ser sua próxima pressa?

Élida Cunha  - 
Especialista em Psicologia Clínica Humanista Existencial Fenomenológica.